sábado, 10 de julho de 2010
HOTEIRO HOMILÉTICO DO DIA 11 - 15º DOMINGO COMUM
Epístola (Cl 1, 15-20)
SUPREMACIA DE CRISTO
INTRODUÇÃO: Cristo, como fim do mundo criado por Deus, primeiro na intenção e último no alcance e consecução é a trama sobre a qual Paulo raciocina neste trecho de sua carta aos colossenses. Cristo como imagem visível de Deus, como primogênito dentre os mortos de modo especial, constituiu princípio e plenitude de tudo, especialmente cabeça de um corpo que é a Igreja. Finalmente Cristo como reconciliador e instrumento da paz com Deus e com os homens. Cristo que deve ser tudo em todos. Esse é o motivo deste início da carta aos colossenses.
CRISTO IMAGEM: O qual é imagem do Deus o invisível, primogênito de toda criatura (15). Qui est imago Dei invisibilis primogenitus omnis creaturae. IMAGEM DE DEUS: Paulo, certamente, como rabino judeu, sabia do fato que, no Gênesis, 1, 26 Deus disse: Façamos o homem à nossa imagem [Betselamonu <6754>= eis eikona ëmeteran] conforme a nossa semelhança [kidmutenu< 1823> = kath’omoiösin]. TSELEM [<06754>= imago] é propriamente sombra. De onde imagem, forma, retrato, aparência. Quando Adão concebeu Set o fez conforme a sua imagem [betsalmu], usando o mesmo substantivo (a imagem dele) que quando Deus formou o corpo de Adão, indicando a correspondência entre pai/filho. Em Gênesis, o autor indica, de um modo poético, que essa identidade é uma DEMUTH<01823>, semelhança, modelo, aparência. Um exemplo é Is 13, 4: A gritaria da multidão sobre os montes semelhante [demuth] à de um grande povo. É possível que a ideia de Elohim [Deus] fosse antropomórfica, nos tempos primitivos, de modo que, inicialmente, fosse uma figura humana com as duas propriedades divinas dadas pelos frutos das duas árvores [da vida e do bem e do mal] ? Da leitura direta de Gn 3, 5, vemos como a serpente diz à mulher: se comerdes da árvore do bem e do mal sereis como deuses [kelohim =esesthe ‘ös theoi] conhecedores do bem e do mal. Que no significado concreto do autor sagrado, indicava a sabedoria correspondente à divindade. E temos a outra passagem em 3, 22: eis que o homem é como um de nós [kiahad=´ös eis ëx ëmön], sabendo o bem e o mal; ora, para que não estenda a sua mão e tome também da árvore da vida e coma e viva eternamente… De tudo isto podemos deduzir:
1) Nos tempos em que foi escrita, a passagem pertencia a uma cultura francamente monoteísta, mas imperfeita, que podemos chamar de monoteísmo relativo: Havia muitos deuses, e entre eles Jahveh era único para o povo judeu. Esse Deus-Jahveh tinha um corpo como os homens e pertencia a um gênero divino em que sua sabedoria era fruto de uma árvore e sua imortalidade de outra. Jahveh Elohim poderia ser assim traduzido como o existente entre os deuses o Deus vivo, ou finalmente o verdadeiro Deus. Os outros eram secundários, de categoria inferior, sendo suas estátuas vãs ou inconsistentes. Pois Jahveh era o Deus dos deuses que podia mais do que todos juntos. 2) Adão, uma vez comido o fruto proibido, era como um deus, claro que de categoria inferior mas muito semelhante ao Deus que o formou e de quem dependia como uma obra depende de seu criador.
3) O antropomorfismo do capítulo 3, 8 , em que Jahveh Elohim passeava pela viração do dia no jardim, indica que a ideia de Deus era a de um ser com corpo humano, ou semelhante, que tinha como elementos distintivos de sua essência a sabedoria e a imortalidade.
4) Também temos, neste conceito primitivo da essência divina, uma fonte de explicação para os versos do capítulo 6,: os filhos de Deus tomando mulheres das filhas do homem suscita a ideia de que deuses e homens são semelhantes
(3) e os filhos nascidos como mestiços, dentre deuses e mulheres humanas, foram os gigantes
(4), pois seus corpos de alguma maneira tinham que se distinguir dos puros homens. Esta interpretação tem como base a inspiração rudimentária do AT que só seria aperfeiçoada com o decorrer dos tempos; e finalmente, com a vinda do Verbo feito carne, em que claramente Jesus diz que Deus é espírito (Jo 4, 24). Porém, submeto esta minha interpretação ao juízo da Igreja, mas creio que não contém valor dogmático algum e só cultural, querendo, através da cultura, iluminar passagens escuras do AT. Já no NT, a ideia de que Deus é puro espírito pertence ao mundo revelado tanto como ao cultural. Portanto a IMAGEM[Eikön<1504>=imago] de que aqui Paulo fala é de um Deus que não tem forma humana [invisível ou em grego aoratos]. Nos evangelhos eikön aparece no caso em que Jesus pergunta sobre um denário de prata: de quem é esta imagem? (Lc 20, 24). Paulo usa eikön em diversas ocasiões: em Rm 1, 23 em que a glória de Deus [sua maneira de se manifestar] foi mudada emimagens de homem, de aves, quadrúpedes e de répteis. O varão é imagem de Deus, como glória ou majestade, não como forma visível do mesmo (1 Cor 11, 7). Pois assim deve ser interpretado o texto. Mas especialmente pelo que diz respeito a este versículo, Cristo é a imagem visível do Deus invisível, quer dizer que o homem-Cristo, visto e ouvido pelos seus conterrâneos, era como se Deus se fizesse homem e fosse visto e ouvido pelos homens que com ele conviveram.NOTA: Vamos explicar isso de que o varão é imagem da glória de Deus. Paulo afirma em 1 Cor 11, 7: O homem não deve cobrir a cabeça por ser ele imagem e glória de Deus, mas a mulher é glória do homem. Segundo a tradição rabínica, o homem é imagem da kabod Hasham [glória do Nome], em que Nome está no lugar de Jahveh. Rabi Hunah ben Joshua nunca andou 2 m com sua cabeça descoberta, porque a divina presença –dizia ele – está sempre presente sobre a minha cabeça. É um ato de kiddush Hashem [louvor do Nome (de Jahveh)]. Já no NT onde Cristo, como temos visto, é imagem visível do Deus invisível, um homem qualquer é imagem ou cópia de Cristo no corpo e alma por ser o corpo cópia do corpo de Cristo e na alma principalmente, segundo os rabinos pelo, poder e dominação que o homem tem sobre todas as criaturas e sobre a mulher que como auxiliar [ezer <05828>=boëthos <998>] lhe é comparável[neged<05048>= omoios <3664>]. Outros traduzem por idôneo e que na setenta se traduz por kata’ auton, segundo ele [o varão] (Gn 2, 18 e 20). Em tempos de Paulo, os libertos usavam o gorro frígio símbolo de liberdade, provavelmente para cobrir o estigma [carimbo] de ferro, feito pelo senhores que foram seus donos. Os romanos cobriam com um véu a cabeça quando realizavam atos de culto como pontífices. Porém, sabemos como os hebreus cobriam a cabeça para lembrar que o que temos acima de nós é Deus no céu, sempre presente sobre nós, observando-nos. O Kippah é um meio de lembrar-nos que acima de nós devemos respeitar alguém que é nosso superior. Que estamos submetidos aos seus desígnios sempre. Daí que Paulo, seguindo a tradição cultural da época, que sujeitava a mulher ao homem, diga que a modo de Kippah cívico esta devia cobrir a sua cabeça por respeito ao seu marido ao qual estava submetida. O que Paulo afirma em 1 Cor 11, 7 é pois, tradição e cultura e não preceito dogmático ou religioso.
CRISTO PRIMAZIA DA CRIAÇÃO:
Porque nele foram criadas todas as coisas as que (estão) nos céus e sobre a terra, as visíveis e as invisíveis, sejam tronos, sejam senhorios, sejam principados, sejam potestades: todas as coisas por meio dele e nele foram criadas (16). Quia in ipso condita sunt universa in caelis et in terra visibilia et invisibilia sive throni sive dominationes sive principatus sive potestates omnia per ipsum et in ipso creata sunt. Aqui Paulo explica o modo como o Cristo é glória de Deus: porque ele foi a causa de toda a criação, tanto da visível ou terrena, como da angélica ou invsível. Ou seja, céus e terra. E como essa causa se manifesta como doxa[majestade ou domínio], Paulo descreve, numa lista praticamente completa, os diversos domínios que na época se encontravam na terra: sejam estes Tronos [Thronoi=throni], senhorios [kyriotës =dominationes], principados [archai=principatus], potestades [exousiai=potestates]. Paulo termina declarando que tudo foi feito por meio dEle e nEle, ou seja, para que Ele dominasse céus e terra. Com isto se explica em que consiste a glória [domínio] que representa tanto Cristo como imagem visível de Deus como o homem em sua qualidade de imagem de Deus [de sua glória ou domínio] como da glória [domínio] da mulher.
CRISTO UNIFICAÇÃO DO UNIVERSO: E ele é ante todas as coisas e todas nele estão constituídas (17). Et ipse est ante omnes et omnia in ipso constant. E Paulo, remata a descrição do poder de Cristo ao propô-lo como primeiro de tudo e como base desse mesmo tudo que existia; ou, como diz o grego sunestëken [<4921>=constant] que do verbo sunystëmi, com o significado de reunir, aglutinar, reunificar, sintetizar. Além de recomendar, estar da parte de alguém. Com o primeiro significado, temos também 2Pd 3, 5: houve céus bem como terra, a qual surgiu [synestösa] da água. Ou com o segundo: não é aprovado quem a si mesmo se louva[synistön]. Logicamente aqui é o primeiro significado o que prevalece.
CRISTO CABEÇA:
E ele é a cabeça do corpo da Igreja o qual é princípio primogênito dentre os mortos para ser em todos primazia (18). Et ipse est caput corporis ecclesiae qui est principium primogenitus ex mortuis ut sit in omnibus ipse primatum tenens. CABEÇA: [kefalë<2776>=caput] Paulo em 1 Cor 12, 12-14 descreve a Igreja como um corpo, cuja cabeça é Cristo. Quando falamos do corpo [soma] pensamos sempre num corpo místico em que o principal é a fé e o amor como unidade em espírito. Mas para Paulo o corpo é muito mais do que uma analogia. Segundo ele, a Igreja é a esposa, e, portanto, ele dirá que ambos, Jesus e a Igreja constituem um só corpo, de modo que a eles se pode aplicar o que diz o Gênesis: a Igreja será osso dos meus ossos e carne de minha carne (Gn 2, 23). A comunhão com o corpo e sangue de Cristo na Eucaristia nos dá também base para essa identificação de Cristo com o corpo eclesial, que constitui o pleroma de seu corpo biológico. Daí que Paulo tira o argumento de que é necessária a ressurreição de Cristo para que nós ressuscitemos, pois formamos um só corpo com Ele ao modo como uma esposa forma um só corpo com o esposo. E tanto é assim que não somos dois corpos, mas um só, no qual todos somos membros (1Cor 12, 12). A frase christianus alter Christus [o cristão, outro Cristo] não tem só um sentido espiritual [o Espírito sendo o mesmo] mas também sentido somático e corporal, de modo que todo corpo de um batizado é sagrado [agios] e não só representa, mas forma parte do corpo de Cristo, sem se confundir com ele, mas como uma esposa se une a um esposo para formar um só corpo. Desse corpo, Cristo é cabeça e nós somos os diferentes membros, com diferentes dons, atividades e ministérios (1 Cor 12, 4-6). PRINCÍPIO: [archë<746>=princípium] o começo e a origem como fundador e primeiro membro dessa Igreja que é o novo povo de Deus, constituindo o Reino dele aqui na terra. PRIMOGÊNITO: [Prötotokos <4416> =primogenitus] era o primogênito em sentido legal, que correspondia geralmente ao primeiro varão nascido de um matrimônio legítimo e que, como tal, tinha direito à primogenitura, ou seja, a herança correspondente. Como tal, o primogênito estava dedicado ao serviço divino e só podia ser resgatado por meio de cinco siclos, na realidade o preço de um escravo na idade infantil. Segundo as Escrituras, Jesus é primogênito de toda a criação (Cl1, 15), primogênito entre muitos irmãos que levam a sua imagem (Rm 8, 29) e finalmente, primogênito dentre os mortos com sua ressurreição (Cl 1, 18). Segundo Hebreus 12, 23, todos os salvos no céu são também primogênitos porque herdeiros da mesma fortuna (12, 23), basicamente a filiação divina. PRIMAZIA: [pröteuön<4409>=primatum] é a única vez que sai e significa preeminência, a preferência no que diz respeito a outra pessoa por razão ou mérito especial. De modo que aos olhos de Deus, Cristo está sobre toda criatura como afirma Paulo, pois é a razão de toda a criação e o fim da mesma (Vers 16).
PLENITUDE DE CRISTO: Porque nele aprouve habitar toda a plenitude (19). Quia in ipso conplacuit omnem plenitudinem habitare. São duas as razões que Paulo aduz para essa primacia: a primeira é a PLENITUDE [plëröma <4138> =plenitudo] O pleroma grego era o barco completo ou só a totalidade da mercadoria nele embarcada. Dai pleroma como a plenitude de uma coisa ou ser. Cristo é a plenitude da criação como um completo compêndio de tudo o que foi criado.
RECONCILIADOR E PACIFICADOR: E por meio dEle reconciliar todas as coisas nEle, fazendo a paz por meio do sangue de sua cruz tanto das coisas sobre a terra como das nos céus (20). Et per eum reconciliare omnia in ipsum pacificans per sanguinem crucis eius sive quae in terris sive quae in caelis sunt. Neste versículo encontramos a segunda razão da hegemonia de Cristo: A reconciliação que foi substancial nEle ao ser como a lente através da qual Deus olha o mundo, pois ele foi a causa, com seu sangue na cruz, de trazer a paz entre a terra e o céu. Ou melhor, de apaziguar terra e céu. O andar inferior do universo, que é o inferno, está submetido, mas não aceita a paz porque se opõe ao seu [de Cristo] reino de amor e pretende viver no ódio. Porém sempre se cumpre a palavra do apóstolo: todo joelho se dobrará nos céus, na terra e debaixo da terra ao nome de Jesus (Fp 2, 10).
Evangelho (Lc 10, 25-37)
COMO OBTER A VIDA ETERNA? QUEM É O MEU PRÓXIMO?
O evangelho pode ser dividido em duas partes diferentes: 1o A pergunta do nomikós[advogado, ou intérprete da lei] sobre a obtenção da via eterna. 2o A resposta de Jesus sobre quem deve ser considerado o nosso próximo. Vamos estudar cada um dos dois pontos extremamente interessantes.
A PERGUNTA
A PERGUNTA DO ESCRIBA: E eis que um intérprete da lei levantou-se tentando-o e dizendo: Mestre, que fazendo herdadarei a vida eterna? (25). Et ecce quidam legis peritus surrexit temptans illum et dicens magister quid faciendo vitam aeternam possidebo. A perícope é narrada também pelos outros dois sinóticos, Mt 22, 34-40 e Mc 12, 28-31. Segundo Marcos e Mateus, mais próximos da cultura semítica, parece que Jesus estava ensinando. Daí o levantou-se (23) e o título de Didáskale (magister ou mestre). Pelas circunstâncias narradas pelos outros dois evangelistas, sabemos que estamos em momentos de discussão e que os primeiros a brandir uma lança foram os saduceus, que tiveram que se retirar emudecidos (Mt 12, 28); e foi então que os fariseus entraram na lide com a pergunta, também capciosa, do nosso jurista. A palavraNomikós significa um jurista ou jurisconsulto, perito em dar solução a problemas sobre a lei [nomos]. Como a lei jurídica dos judeus era a Torá, daí que o nosso jurista era um perito na lei mosaica. Segundo os outros dois evangelistas, o jurista pergunta qual é o primeiro (Mc) mandamento, ou grande (Mt) no sentido de superlativo que o hebraico não tem. Era a disputa de sempre entre as diversas escolas que deviam escolher dentre os mandatos maiores, qual deles era o mais importante.
RESPOSTA DE JESUS: Ele portanto lhe disse: Que está escrito na Lei? Como interpretas? (26). At ille dixit ad eum in lege quid scriptum est quomodo legis. Para Lucas o problema era de justificação, como diz Paulo, e por isso a pergunta é diferente: Que devo fazer para herdar a vida eterna? Vamos fazer uma distinção: Nomos era a tradução de Torá, a Lei de Moisés, que tinha 613 mandatos ou entolai dos quais 248 eram positivos e 365 negativos. Os rabinos diziam que o Santo só revelou a recompensa para dois deles, o mais importantes entre os importantes, como era honra teus pais (Êx 20,12) e o menor entre os pequenos que era deixa livre a mãe quando apanhares os passarinhos (Dt 22,7). A Torá não era problema entre os gentios de Lucas, que talvez nem a conhecessem. Daí que a pergunta do nomikós fosse referente à salvação. Precisamente o problema mais angustioso entre os gentios era como obter a vida eterna. E a pergunta do jurista entrava dentro de seu anseio essencial. Um jurista judeu ensinava a lei e a interpretava. E um dos problemas que devia solucionar era precisamente esse: Que deve ser feito para herdar a vida eterna? A pergunta surge com a leitura de Daniel 12, 2-3. O profeta prediz tempos difíceis em que haverá uma ressurreição dos que dormem [mortos]: Estes para a vida eterna, aqueles para o opróbrio, para o horror eterno. A Setenta tem eis aiónion zoén [para a vida eterna]. De um intérprete, pois, da Escritura podemos esperar essa problemática que considera essencial, assim como a samaritana perguntava sobre o lugar mais apropriado para adorar o Senhor (Jo 4, 20).
O ESCRIBA: Ele, pois, respondendo, disse: amarás o Senhor teu Deus com todo teu coração, e com toda tua alma e com toda tua força e com toda tua mente; e ao próximo como a ti mesmo (27). ille respondens dixit diliges Dominum Deum tuum ex toto corde tuo et ex tota anima tua et ex omnibus viribus tuis et ex omni mente tua et proximum tuum sicut te ipsum. Marcos cita textualmente oShemá a oração que duas vezes ao dia deviam recitar ou entoar os israelitas maiores de idade. Essa prece reconhece o Senhor como único e manda amá-lo de todo o teu coração [kardia]de toda a tua alma [psyché] e de toda a tua força [dýnamis](Dt 6,5, cita direta da Setenta). Marcos acrescenta mais uma potência a dianóia [mente ou pensamento]. Mateus usa só três termos mas substitui a força pela dianóia. Vejamos as faculdades com as quais devemos amar. A bíblia usa o leb [kardia, cor, coração] em sentido figurado principalmente,e significa muito mais do que pretendemos nas línguas modernas. Designa a personalidade consciente, inteligente e livre, a vontade e os desejos, as emoções e os sentimentos: no fim, o homem na sua mais profunda intimidade. Em especial no nosso caso, é a sede do entendimento, fonte do pensamento, da vontade e dos desejos. Nefesh: A segunda faculdade humana é a nefesh[psyché, anima, alma (traduzimos para o grego, latim e português)] que embora em termos bíblicos designa todo o homem enquanto vivo, como faculdade, podemos dizer que é seu alento vital, que anima o corpo e se mostra principalmente na respiração. É o elemento que não desaparece com a morte. MEOD: O terceiro elemento é meod [dýnamis, fortitudo, posses ou forças]. Marcos e Lucas acrescentam ou dividem o meod em duas faculdades: Dianóia [mens, mente] e ischyos [virtus (vires em Lc) , força]. Que dizer de toda esta abundância de detalhes? Tanto o Deuteronômio como os evangelistas usam uma fartura propositada de faculdades humanas para afirmar que o amor que devemos a Deus não tem limites e é com tudo que devemos amá-lo, ou melhor, servi-lo. Como sendo o único Senhor que dispõe e propõe de nossa existência; pois o sentido do amor que a Ele devemos, está determinado, tanto pelas faculdades a Ele submetidas como pelo atributo que acompanha a palavra chave de Deus: Ele é Senhor e as faculdades que formam o homem completo, como composto das mesmas [kardia, psyché,ischys e dýnamis] estão todas subordinadas ao seu serviço total [ex holes, ex toto, de todo]. O homem depende do que Deus quer e como Deus quer. E até quando Deus quer ( S. Maravillas). Mais um detalhe: na reposta de Lucas, Jesus usa o método socrático de responder perguntando e nessa pergunta ele pede ao escriba que lembre do que está escrito na Lei e que ele reconhece bem, ou recita como Keriat Shema; recitação que era obrigatória desde que se possa distinguir entre o azul e o branco, segundo a Mishná. O PRÓXIMO: RÉA ou REYA é a palavra que usa o Pentateuco para designar o próximo. Com o número de Strong <07453> aparece inúmeras vezes no AT. Sua tradução originária é ASSOCIADO; mas aparece com os significados de irmão, companheiro, camarada, amigo, esposo, amante e vizinho, segundo os diversos textos. Como mandato dentro da lei, aparece em Dt 5, 20: Não dirás falso testemunho contra teu próximo. Com o significado de amigo lemos: teu amigo que amas como à tua alma (Dt 13, 6). A passagem que o nomikós cita é Lv 19, 18: Não te vingarás nem guardarás ira contra os filhos do teu povo; mas amarás o teu próximo como a ti mesmo. O famoso Hilel, o ancião, ditou este preceito em outras palavras: Não faças a teu companheiro o que não queres que te façam.Segundo o comentário bíblico moderno do rabino Meir Matziliah, as palavras que designam companheiro, próximo e irmão são réa – amith- ben- am- ah. Ah é irmão e era usado para todo israelita. Em Lv 19, 17-18 saem esses quatro termos [ ah (irmão) amith (companheiro), bem(filho) am (povo) e réa (próximo) A citação será: Não odiarás o teu irmão [ah 0251] no teu coração; repreenderás a teu companheiro [amith 05997] e por causa dele não levarás sobre ti pecado(17) . Não te vingarás nem guardarás ira contra os filhos [ben 01121] do teu povo [am 05971]; mas amarás o teu próximo [reya 07453] como a ti mesmo. Marcos e Mateus, após terminar a exposição do Shemá como mandato primordial, acrescentam umas palavras de Jesus: o segundo é semelhante: amarás o próximo como a ti mesmo. Marcos dirá que não existe outro mandamento maior (12, 31). E Mateus, que nestes dois mandamentos dependem toda a lei e os profetas ( 22, 40) Lucas é o único dos três evangelistas que narra a parábola como resposta à pergunta imediata do nomikós: A quem devo considerar meu próximo? A resposta da lei [Torá] era clara: Não levantarás uma acusação que faça derramar o sangue de teu próximo (Lv 19, 16) e tratarás o migrante que mora entre vós como um de vós; ama-lo-ás como a ti mesmo (Lv 19, 34) Mas Jesus com uma parábola que é uma página das mais belas da literatura universal, e com detalhes se não reais, pelo menos verossímeis no estilo de hagadá [narração] nos oferece um mashal [exemplo ou parábola] em que o importante é a moral da história embora possam existir pormenores que sejam utilizados alegoricamente. A parábola tem muitos detalhes que foram tomados da realidade do tempo. Vamos explicar alguns deles.
COMENTÁRIO DE JESUS:: Disse-lhe então Jesus: Corretamente respondeste. Faze isso e viverás(28). Dixitque illi recte respondisti hoc fac et vives.Jesus confirma o bom-senso do escriba, e afirma que realmente a vida verdadeira consiste em cumprir esse mandato supremo em suas duas ordenações. Hoje em que o mundo busca com maior ímpeto a felicidade é bom lembrar que esta só pode ser encontrada no cumprimento do mandato do amor em sua dupla finalidade.
A PERGUNTA FINAL: Ele, pois, querendo se justificar disse a Jesus: E quem é meu próximo? (29).ille autem volens iustificare se ipsum dixit ad Iesum et quis est meus proximus. Jahveh era o único Deus e não existia dúvida sobre o objeto do primeiro e máximo amor. Mas quem realmente era ou é nosso próximo? Jesus responde com uma parábola, que hoje denominamos do Bom Samaritano.
A PARÁBOLA
DESCIA DE JERUSALÉM A JERICÓ: Jesus prosseguiu dizendo: Certo homem descia de Jerusalém a Jericó e veio cair em mãos de salteadores, os quais depois de tudo lhe roubarem e lhe causarem muitos ferimentos retiraram-se, deixando-o semimorto (30). Suscipiens autem Iesus dixit homo quidam descendebat ab Hierusalem in Hiericho et incidit in latrones qui etiam despoliaverunt eum et plagis inpositis abierunt semivivo relicto. Na realidade, Jerusalém está a 800m sobre o nível do Mediterrâneo e Jericó a 300m sob o mesmo nível, havendo pois, uma diferença de 1100 m e sendo o caminho descendente. Jerusalém era a cidade sacra por excelência e Jericó uma cidade que Herodes o Grande tinha como lugar de prazer. Em Jericó estava também uma colônia de sacerdotes, de modo que era uma cidade dormitório dos mesmos. A distância entre Jerusalém e Jericó era de aproximadamente 150 estádios ou 28 Km. O caminho era praticamente desértico e pedregoso, como era o deserto de Judá do qual forma parte.
OS BANDIDOS: O grego distingue entre Kleptes [ladrão às escondidas] e lestes [bandido ou salteador]. Estes últimos eram frequentes nos tempos de Jesus em forma de salteadores de caminhos ou piratas do mar. Ambos eram condenados à morte na cruz. Assim eram os dois que acompanharam Jesus segundo Mt 27, 38 que Lucas 22, 33, chamará de malfeitores [kakourgos]. Seriam zelotas que, devido à sua vida fora da lei, se tornavam de revoltosos em bandidos como atualmente acontece, por exemplo, na Colômbia? É provável. O caso é que despojaram o nosso homem de tudo, deixando-o nu e coberto de feridas, como morto. Não era infrequente este fato e precisamente num trecho do caminho chamado subida de Adummim [dos vermelhos] que parece indicar sangue. Aí deixaram, como se fosse um cadáver, o infeliz assaltado.
O SACERDOTE E O LEVITA: Casualmente descia um sacerdote por aquele mesmo caminho e tendo-o visto, passou de largo (31). Accidit autem ut sacerdos quidam descenderet eadem via et viso illo praeterivit. Semelhantemente, um levita descia por aquele lugar e tendo-o visto, também passou pelo outro lado (32). Similiter et Levita cum esset secus locum et videret eum pertransit.Como temos visto, Jericó era uma cidade dormitório de sacerdotes e levitas. Talvez existisse uma outra razão para que Jesus colocasse estes personagens: a impureza que, como servos do templo, deviam evitar a contaminação com um cadáver, que era uma das impurezas mais graves (Nm 5,2) e até o templo do Senhor estaria impuro se o sacerdote ou levita não fizessem antes a sua purificação. Um sacerdote ou um levita só podiam contaminar-se com um cadáver no caso deste ser um parente dos mais próximos (Ez 44, 25). E sabemos como a lei da impureza era de suma importância entre os judeus. Até a aproximação com um cadáver podia ser causa de tal impureza, como era entrar na tenda onde estava o morto (Nm 19, 14). Especialmente era impuro aquele que tocar um cadáver, morto pela espada no campo (19, 16). Daí que ambos deram um rodeio para evitar semelhante impureza, pois consideravam que o homem estava morto. Sem dúvida que Jesus escolheu as circunstâncias e os atores para indicar que a lei não devia estar por cima da misericórdia (Mt 9, 13).
O SAMARITANO: Porém um samaritano de caminho, veio perto dele e tendo-o visto moveu-se a compaixão (33). Samaritanus autem quidam iter faciens venit secus eum et videns eum misericordia motus est. E aproximando-se, vendou-lhe os ferimentos aplicando óleo e vinho e colocando-o sobre a sua cavalgadura levou-o a uma hospedaria e tratou dele (34). No dia seguinte tirou dois denários e entregou ao hospedeiro dizendo: Cuida deste homem e se alguma coisa gastares a mais, eu te endenizarei quando voltar(35). Et altera die protulit duos denarios et dedit stablario et ait curam illius habe et quodcumque supererogaveris ego cum rediero reddam tibi. Jesus escolhe o homem mais odiado pelos judeus, um herege, que do ponto de vista de um jurista era pior do que um pagão. E este homem tão desprezado foi o que realmente atuou como próximo [vizinho-amigo] de um outro a quem devemos amor. O que fez o samaritano não era comum na época. Também eles tinham as leis de impureza. Mas a compaixão (33) o obriga a cuidar de um estranho que estava em perigo de morte. O verbo usado por Lucas é o mesmo que usa quando Jesus se move a compaixão por doentes ou necessitados (Lc 7, 13). A primeira coisa que o samaritano fez foi vendar as feridas, após aplicar óleo e vinho, remédios da época. Misturados, serviam para curar feridas e até a chaga da circuncisão como está escrito na Mishná. Pois até em sábado se podia executar o rito, só que não se podia misturar óleo e vinho, cuja mistura devia ser feita antes, para não infringir o descanso prescrito nesse dia. Por isso estava prescrito que se aplicassem por separado. Após vendar as feridas, o samaritano montou o ferido na besta; o asno era a montaria permitida pois o cavalo era usado só pelos homens de guerra. E o levou a uma hospedaria [pandocheion] de pan [todo] e dechomai [receber] e o cuidou. No dia seguinte pagou dois denários ao hospedeiro dizendo que na sua volta pagaria tudo quanto fosse devido. O denário era a moeda com a qual se pagava o trabalho de um dia. Visto o que temos escrito sobre próximo, é evidente que o feito pelo samaritano é o que se espera de um amigo ou de um parente. Por isso não é uma conduta irreal ou extremamente fora do comum.
A PERGUNTA:
Qual destes três te parece que foi o próximo do homem ferido pelos bandidos? (36).Quis horum trium videtur tibi proximus fuisse illi qui incidit in latrones. Aquele que se comportou com o ferido como um réa [próximo] que, segundo a Lei do AT, era um ah [irmão], um do am[povo], ou amith [companheiro].
CONCLUSÃO: Ele então disse: quem fez misericórdia com ele. Disse pois Jesus vá e faz tu da mesma maneira (37). At ille dixit qui fecit misericordiam in illum et ait illi Iesus vade et tu fac similiter. Logicamente o escriba teve que responder que o samaritano. Porém, ele usa um circunlóquio: o que usou de misericórdia. Dizer a palavra maldita para um judeu que correspondia a um herege não entrava dentro dos costumes lógicos de um escriba, que além do mais, correspondia ao seu ofício, era um fariseu. Aqui encontramos mais um detalhe da autenticidade do texto e da sua veracidade. Jesus, então, responde: vai e procede tu de igual modo. E Jesus parece que igualmente nos está demandando agora: procede tu do mesmo modo.
OBSERVAÇÕES: Jesus não muda a lei, a antiga, Torah, mas explica o significado da mesma indicando quem deve ser considerado como próximo, ou melhor, quem atua ou ama como próximo. É uma lição de amor mais do que uma lição semântica de quem deve ser considerado como próximo. O amor é o que nos salva ou em palavras do jurista nos dá o direito de herdar a vida eterna. O samaritano é a figura chave de como devemos nos comportar para que a lei do Levítico seja norma de nossa vida: amarás o próximo como a ti mesmo. Por isso o samaritano cuida com perfeita lógica de um aparentemente estranho, como ele mesmo queria ser tratado: Sem poupar qualquer cuidado ou solicitude. E neste trato não existe diferença por causa de religião ou etnia. Todos devemos tratar o outro, qualquer que seja, como queremos ser tratados, especialmente os mais necessitados. Deste modo seremos verdadeiros próximos dos que convivem conosco.
PISTAS: A lição do evangelho de hoje é uma lição de amor. De como devemos viver evangelicamente nossas vidas para que os nossos deveres com Deus e o próximo sejam devidamente cumpridos. A frase de Madre Maravillas, anteriormente citada, é a que nos indica de maneira prática o exercício do amor a Deus.
2) A lição de Jesus é dificilmente explicada nos comentários da parábola. Sem saber o significado de próximo nos tempos de Jesus, dificilmente poderíamos entender a moral da história. Próximo não é o necessitado, mas aquele que trata os outros como ele quer ser tratado, até com mordomias que parecem desnecessárias, como vemos na parábola. Quando eu encontrar um médico, um amigo que por mim faz tudo o que eu pediria que fosse feito, eu encontro o verdadeiro próximo como uma dádiva de Deus.
3) Diante dessa prescrição final de Jesus faz isso e viverás, temos que aceitar com humildade que somos extremamente falhos na vivência do amor para com os outros homens. Sempre, ou quase sempre, nos aproveitamos deles e praticamente nunca pensamos como Paulo servi uns aos outros por causa do amor (Gl 5,13). Desta última forma perderemos a nossa liberdade [vida] mas ganharemos a nossa eternidade.
Boa semana a todos
Pe. Lucimar
sábado, 3 de julho de 2010
sugestão para homilia da Solenidade de São Pedro e São Paulo
Solenidade de São Pedro e São Paulo
Epístola (2 Tm 4, 6-8. 17-18)
Pois eu estou sendo oferecido em libação e a ocasião de minha partida tem chegado (6). Ego enim iam delibor et tempus meae resolutionis instat.
OFERECIDO EM LIBAÇÃO: O verbo spendö [<5743>=delibare] significa derramar, fazer uma libação, e figuradamente, na passiva, de uma pessoa cujo sangue é derramado em morte violenta por causa de Deus. Sai duas vezes no NT. Na segunda é em Fp 2,17:Mesmo que eu seja oferecido por libação [spendomai]sobre o sacrifício. É o mesmo Paulo que fala e que claramente usa com o mesmo sentido o verbo em questão.OCASIÃO: A palavra Kairos [<2540>=tempus] é o momento propício, que temos traduzido por ocasião. PARTIDA: em grego analysis [<359>=resolutio] dissolução, saída, especialmente de um barco, soltar amarras. Paulo está preso em Roma, desamparado de todos sem esperança de libertação. Era o ano de 67 pouco antes de sua morte. Antes desta em que derramou seu sangue por causa do evangelho, escreve esta carta pedindo a Timóteo para que lhe acompanhe nos seus dias finais.
A luta, a boa, lutei. A corrida completei, a fé guardei (7). Bonum certamen certavi cursum consummavi fidem servavi. LUTA: [aglön<73>=certamen] o significado é assembleia, o lugar onde se realiza a assembleia, especialmente para os jogos, a arena dos mesmos, daí a luta, e em geral uma luta ou combate e finalmente uma ação legal ou julgamento. Aqui é claro que Paulo considera sua vida como um combate contínuo contra o mal, contra os principados e potestades, contra os dominadores deste mundo tenebroso, contra as forças espirituais do mal nas regiões celestes (Ef 6, 12). O evangelho encontra um inimigo terrível nas verdadeiras forças do mal que não são a carne e sangue [os homens], mas as potestades celestes, ou seja, o próprio Satanás cujo reino Jesus previa como caindo (Lc 10, 18). Só assim descobriremos como a Igreja é perseguida, aparentemente sem motivo ou razão suficiente, como para ser o sangue de seus mártires realmente libados no terreno da História. Isso abre uma porta à interpretação da História do ponto de vista sobrenatural, em que existem momentos como na vida de Jesus dos quais podemos dizer como o Senhor: esta é a hora e o poder das trevas (Lc 22, 63). E Paulo continua sua comparação com o espetáculo dos jogos antigos como se fosse um gladiador que agora entra na corrida das bigas e quadrigas do circo, tudo para conservar sua fé naturalmente na missão de Cristo.
Do resto, me está reservada a coroa da justiça que me dará o Senhor naquele dia, o justo juiz; pois não só a mim, mas a todos os que amam seu advento (8). In reliquo reposita est mihi iustitiae corona quam reddet mihi Dominus in illa die iustus iudex non solum autem mihi sed et his qui diligunt adventum eius.Porém o triunfo final será sempre o triunfo do bem, onde a coroa da justiça, isto é, o prêmio [estamos dentro da arena da competição] a levará unicamente quem tiver competido com a regra do bem-fazer, ou seja, de quem cuidou de cumprir os mandatos do Senhor que constitui a única justiça válida e digna de recompensa. Por isso, a recompensa vem do Senhor, como justo juiz. E esta vitória não é só de Paulo, mas de todos os que amam ou estão esperando esse seu último advento ou presença entre a humanidade.
Pois o Senhor esteve presente e me deu forças para que por meu meio o anúncio fosse completado e o ouvissem todos os gentios e fui libertado da boca do leão (17). Dominus autem mihi adstitit et confortavit me ut per me praedicatio impleatur et audiant omnes gentes et liberatus sum de ore leonis. Nos versículos que faltam nesta leitura Paulo se queixa de sua solidão. Ninguém o visita, ninguém o ajuda. Mas ele encontrou um advogado no Senhor. Foi tal a sua defesa unicamente com a ajuda do paracletos [o advogado defensor prometido por Jesus] que serviu para dar a conhecer o evangelho entre os gentios como aprece na sua defesa diante do rei Agripa (At 25, 13 ss). E diz que foi libertado da boca do leão, ou seja, até agora nessa primeira audiência não foi condenado, como lemos em Sl 22,21: salva-me das faces do leão e talvez tenha em conta o castigo dado a Daniel na cova dos leões do qual o anjo de Jahveh o libertou, mas fizeram pedaços dos corpos de seus inimigos (Dn cap 6).
E me libertará o Senhor de toda obra má e salvará para seu reino, o do céu, ao qual a glória para os séculos dos séculos. Amém (18). Liberabit me Dominus ab omni opere malo et salvum faciet in regnum suum caeleste cui gloria in saecula saeculorum amen. Paulo fala num futuro que ele vê próximo, pois sua morte está já às portas, já que terminou a carreira e finalizou o combate (ver7). E nessa visão, tem confiança de que Deus [o Senhor, pois Cristo é o Senhor Jesus] liberta-lo-á de toda espécie de mal e o levará ao Reino definitivo que segundo Paulo é o que está no céu [epouranios <2032>=caelestis] ou celeste, coisa oposta a epi tës gës [sobre a terra ou terrestre]. Finalmente, termina com uma doxologia: Glória [doxa], honra ou louvor a esse Deus por sempre. A frase eis tous aiönas tön aiönion tem em latim a tradução de pelos séculos dos séculos e podemos traduzi-la para sempre e por sempre, o que geralmente é por sempre jamais.
Evangelho (Mt 16, 13-19)
PEDRO E PAULO APÓSTOLOS
INTRODUÇÃO: Este evangelho é o primeiro IBOPE do qual temos notícia. A pergunta é: Quem dizem os homens que sou eu, como Filho do Homem? (13). Dois são os elementos de estudo principais derivados deste evangelho: Ekklësia e Petros. Estudaremos o texto comparando-o com os paralelos de Marcos 8, 27-30 e Lucas 9, 18-21. É um texto, o de Mateus, fundamental, que ilumina biblicamente a primitiva Igreja tal e como foi fundada por Jesus. Ekklësia, palavra grega que significa assembléia, designa a comunidade nova, o novo povo de Deus, que ia substituir o antigo povo de Israel. Nela, Petros [a rocha], obtém o poder supremo, o chamado primado do reino que dirá a última palavra sobre quem está dentro e quem deve ser expulso da mesma Ekklësia. E esta estrutura seria a definitiva, sem que a morte [os portões do Ades], tanto de Pedro como de seus sucessores, pudesse contra ela. As conseqüências são essenciais para entender o cristianismo atual, como organização que contribui para a obra de salvação de Jesus.
A PERGUNTA: Tendo chegado então Jesus para as terras de Cesareia de Filipe, perguntou a seus discípulos dizendo: Quem dizem os homens ser eu, o Filho do homem? (13). Venit autem Iesus in partes Caesareae Philippi et interrogabat discipulos suos dicens quem dicunt homines esse Filium hominis. O LOCAL: Mateus diz que era perto de Cesaréia de Filipe. Na realidade, Jesus veio para os distritos [merë], lugares, ou terras que eram dessa cidade. Cesareia era o nome comum de várias cidades. Essencialmente, na Palestina, existiam duas Cesareias: a de Palestina, cidade romana, fundada por Herodes o Grande, situada na costa do Mediterrâneo, 37 Km ao sul do monte Carmelo e 100 Km ao noroeste de Jerusalém; e a Cesareia de Filipe, cidade gentílica, situada no sopé do monte Hermom, no Antilíbano, na cabeceira principal do rio Jordão, 32 Km ao norte da Galileia. Distava 40Km de Betsaida [dois dias de caminho desta última]. A antiga Panion também Pânias, que hoje ainda subsiste com o nome de Baniyas numa aldeia das fontes do Jordão. Foi helenizada no século III aC e tinha uma população, também na região, que em sua maioria não era judia. Em 20 aC, Augusto a cedeu a Herodes, que nela construiu um grandioso templo dedicado ao imperador, feito de mármore branco, sobre uma rocha que dominava a cidade e a fértil planície da qual era capital a antigas Pânias, assim chamada porque perto da cidade existia uma gruta, dedicada desde tempos remotos, ao deus Pan ou Panion [deus dos pastores e das florestas]. A cidade foi ampliada e embelezada pelo tetrarca Filipe, que lhe deu o nome de Cesareia em honra de Tibério César. Por isso foi chamada de Cesaréia de Filipe. A partir do século II foi chamada de Cesareia de Pânias e no século IV em diante, o termo Cesareia desapareceu, permanecendo apenas o antigo Pânias. O templo sobre a rocha evidentemente era um símbolo que Jesus não devia desperdiçar. A PERGUNTA: Segundo o evangelho de Mateus, a tradução literal do versículo 13 seria: Quemme dizem os homens ser o Filho do Homem? Esse me [a mim] não está sendo traduzido na vulgata latina nem nas versões vernáculas. Numa linguagem mais elaborada a tradução seria: quem dizem os homens que Eu, o filho do homem, sou? É notório que nas três recensões da pergunta dos três sinóticos a pergunta é a mesma na primeira parte: quem me dizem os homens [as turbas em Lucas] ser? Ou quem dizem os homens que eu sou? Se tomarmos unicamente Mateus, a pergunta seria sobre o Filho do homem. Que ideia tinha a gente sobre esta figura tão frequentemente usada por Jesus como unida ao Reino por ele pregado e presidido? A expressão Filho do homem é semítica e significa em princípio um membro da comunidade humana, especialmente na sua fase de frágil mortal (Is 51, 12 e Jó 25, 6). A expressão Filho do homem se transforma em Daniel (7, 13 +) numa figura simbólica. De um significado plural [o povo dos eleitos] passa a tomar um significado singular como o Filho do homem [um homem] que recebe a glória e o poder que pertencem unicamente a Deus. Por isso foi dado a ele domínio e glória e um reino, de modo que todos os povos, nações e línguas o servissem; seu domínio é um domínio para sempre, que nunca passará e seu reino é um reino que nunca será destruído. Neste último sentido é o título preferido por Jesus, aparecendo setenta vezes na sua boca nos evangelhos. Nesta ocasião, Jesus queria saber qual era a opinião da gente sobre sua pessoa como pregador público de uma mensagem divina. Uma pergunta diretamente unida a seu rol como pregador de um reino que os discípulos esperavam fosse instaurado modo militari em Jerusalém, onde esperavam ir em breve. A figura cume desse reino era, sem dúvida, Jesus que a si mesmo se intitulava como Filho do Homem. FILHO DO HOMEM: ‘O ‘yiós tou anthrópou é uma tradução grega de BEM ADÁM que ocorre 120 vezes no AT, das quais 96 em Ezequiel, e que é um sinônimo de homem. Em Ezequiel é a denominação que Javé dá ao próprio profeta e é sempre em vocativo. Representava a humanidade em contraste com Deus e aparentando a porção da mesma que sofreria a ira do mesmo. Grita e geme, ó filho do homem, porque ela[a notícia] será contra meu povo(Ez 21, 11). Nos salmos representa a fragilidade humana em comparação com a fortaleza de Deus (8, 4-6). Porém em Dn 7, 13 aparece um como, ou semelhante a um filho de homem [Kebar mas, ‘os Yiós anthropou, quase filius hominis]. Ele provém do céu e é destinado a possuir o domínio universal. Jesus precisamente o aplica à sua vinda futura em Mt 24, 30 e lugares paralelos. No NT a frase, com uma exceção [quando Estêvão vê o filho do homem], é sempre achada em frases, pronunciadas por Jesus. Mateus usa a frase 30 vezes, Marcos 14, Lucas 25 e João 13. O ponto crucial é precisamente este trecho do evangelho de hoje.
A RESPOSTA: Eles, pois, disseram: Uns, certamente, João, o Batista, outros porém, Elias; e outros, Jeremias ou um dos profetas(14). At illi dixerunt alii Iohannem Baptistam alii autem Heliam alii vero Hieremiam aut unum ex prophetis. A RESPOSTA: Podemos dividir esta em duas partes bem diferenciadas: uma, a geral, dada pelo povo, que praticamente indica Jesus como um homem de Deus, especialmente como um profeta comparável aos grandes de Israel; a outra é a resposta particular dada por Simão Pedro. Vamos estudar ambas as respostas. A) O Batista:A pregação de Jesus e dos discípulos era a mesma de João: Arrependei-vos, o reino de Deus está próximo (Mt 3, 2) e oferecia um batismo como o do adusto homem do deserto (Jo 3, 22-23). O parecido parentesco entre o Batista e Jesus (Lc 1, 36) talvez facilitasse a ideia de que Jesus era o Batista ressuscitado. Afirmava-se que João, o Batista, era Elias, pois a Escritura afirmava que o antigo profeta não tinha morrido, mas fora arrebatado aos céus no meio de uma tempestade de fogo (2Rs 2, 11). Essa era a razão pela qual se esperava a sua vinda. B) Eliaspropriamente dito. Segundo a tradição, Elias escreveu uma carta depois de ser arrebatado (2 Cr 21, 12) dirigida ao rei Jorão de Judá por sua conduta idolátrica já que tinha como esposa uma filha do ímpio rei Acab de Israel. Supunha-se, pois, que Elias voltaria antes do dia do Senhor, o dia da vingança e do castigo dos ímpios, dia da ira que está por vir (Jo 3, 7). Em Malaquias 3, 1 lemos: Eu vos envio meu mensageiro. Ele aplainará o caminho diante de mim. Por isso numa data posterior ao livro [após o ano 450 aC] identifica este mensageiro ou anjo, com Elias (seria no acrescentado capítulo 4, versículo 5, que não está no canônico Malaquias). Na sua complicada alegoria animalística da História, o livro apócrifo de Henoc (século II aC), descreve a aparição de Elias antes do juízo e da aparição do grande cordeiro apocalíptico. Isto é importante, visto que João falava do Cordeiro de Deus (Jo 1, 29). Em Eclo 48, 10, temos outra referência do século II aC: Tu que fostes designado nas censuras para os tempos a vir, para aplacar a cólera antes que ela se desencadeie, reconduzir o coração do pai para o filho (Lc 1, 17). Vistos os milagres que Jesus operava, os contemporâneos de Jesus pensavam que se não fosse Elias, que em vida realizou muitos e notáveis milagres, devia ser um profeta redivivo [aneste=despertado] pois a profecia tinha acabado e não era necessária nos tempos messiânicos. C) Jeremias: esta identificação é própria de Mateus, porque como vemos em 2 Mc 2, 4-7 temos Jeremias escondendo a arca e o altar dos perfumes na montanha de Moisés para afirmar: Este lugar ficará desconhecido até que Deus tenha consumado a reunião de seu povo e lhe tenha manifestado a sua misericórdia. E em 2 Mc 15, 13 lemos: Apareceu a Judas um homem de cabelos brancos…Onias disse: Este homem que ora pelo povo e pela cidade santa é Jeremias, o profeta de Deus. D) Um profeta. Lucas dirá que é um dos antigos profetas, redivivo. De fato, os judeus distinguiam entre antigos profetas como Josué, Juízes, Samuel, Davi e os profetas compreendidos no reinado de Davi, e os últimos profetas, a começar por Isaías e terminar com Malaquias. A que profeta se referem os discípulos como porta-voz da vox populi? Talvez Samuel que já nos tempos de Saul se mostrou redivivo em 1 Sm 28, 12 diante da médium de Endor? ( ver hades em parágrafo posterior). Ou talvez Moisés, pois a ele comparam a atuação de Jesus como vemos em Jo 5, 45-46 e 6, 31-32. Na realidade, os enviados oficiais perguntam a João se ele não era o Profeta [como conhecido personagem, esperado nos tempos messiânicos] de Dt 18, 15-18. Pois Javé disse a Moisés: um profeta como tu suscitarei do meio de teus irmãos. Por isso em 1 Mc 3, 45 aguardavam a vinda de um profeta que se pronunciasse a respeito. Este profeta, semelhante a Moisés, que deveria ser escutado em tudo (At 3, 22), era o próprio Jesus, coisa que o povo admitiu após a multiplicação dos pães (Jo 6, 14) e na festa dos tabernáculos em Jerusalém(Jo 7, 40).
E VÓS? Diz-lhes: Vós, pois, quem dizeis que eu sou? (15). Dicit illis vos autem quem me esse dicitis. Que ideia têm eles, seus discípulos, do Filho do homem? Ou seja, que papel na vida pública, especialmente na vida religiosa, deve ter Jesus entre seus conterrâneos? Em qual dessas categorias deveria ser incluído o Mestre que foi seu guia e com o qual conviviam durante esse tempo?
PEDRO: Tendo respondido Simão Pedro disse: Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivente (16).Respondens Simon Petrus dixit tu es Christus Filius Dei vivi. O apóstolo-chefe é conhecido por diversos nomes entre os autores do NT. A) Simão. O nome original do apóstolo era Simão, forma abreviada de Simeão [famoso]. De fato, seu nome completo, ou como diríamos hoje, seu DNI era Simão bar Jonas [Simão, filho de Jonas], que a vulgata conserva como Simon bar Iona como vemos no versículo 17 do evangelho de hoje. Já o quarto evangelista diz dele que era filho de João [‘yiós Iöannou] (1, 42), e que a vulgata traduz por filius Iona (?) que o próprio evangelista repete em 21, 15, como Simon Iöannou [Simão de João], com a vulgata agora traduzindo corretamente por filius Ioannis ou de João. A dúvida existe: o pai era Jonas [pomba] ou João [ favor de Deus]? Talvez a solução seja a diferença entre o aramaico e o hebraico em cuja escrita as consoantes de Jonas e João eram as mesmas mas a pronúncia diferente. Jesus, sempre que fala com o apóstolo, usa o nome de Simão. Além do nome próprio ou, como dizem em inglês first name, temos outros personagens com o nome de Simão no NT: Simão, o zelotes, um dos doze (Mt 10, 4); Simão, o irmão do Senhor (Mt 13, 55); Simão, o leproso de Betânia (Mt 26, 6); Simão, o fariseu (Lc 7, 40); Simão, o Cirineu( Mt 27, 32); Simão, pai de Judas, o Iscariotes (Jo 6, 71); Simão, mago (At 8, 9) e Simão de Jope (At 8, 18). Com este nome de Simão é que Jesus o chama B) Como Pedro em latim Petrus e em grego Petros.Uma única vez aparece na boca de Jesus como vocativo ( Lc 22, 34). Esta única ocasião mais parece redacional que ipsissima verba Christi [as próprias palavras de Cristo]. Dentro da parte que poderíamos chamar redacional dos evangelhos, encontramos a palavra Pedro em Mateus 16 vezes, em Marcos 11, em Lucas 9, em João 9 e 3 nos Atos. C) Como Simão Pedro em Mateus 3, em Marcos 1, em Lucas 2, em João 17 e em Atos 4. D) Como Kefas [o aramaico por rocha] aparece em João 1, 42 e nas epístolas de Paulo, nas duas primeiras, Gálatas e 1 Coríntios e sempre na boca de Paulo. Deste nome podemos deduzir que a palavra usada por Jesus foi Kefas e que, aos poucos, ela foi traduzida ao grego como Petros, com o mesmo significado; pois pedra seria lythos. Em latim petra também significa rocha, tendo o significado de pedra a palavra lápis ou calculus. A RESPOSTA: Em nome dos doze, Simão responde: Tu és o Cristo [Ungido], o Filho do Deus vivente. Vamos comparar esta resposta com a de Marcos: Tu és o Cristo (Mc 8, 29), e a de Lucas: O Cristo do (sic) Deus. Ninguém duvida de que a resposta mais breve de Marcos é a saída da boca de Pedro. A de Lucas pode ser redacional ao explicar a unção como feita pelo Deus único e a de Mateus uma explicação, como sempre, de um bom catequista, para entender as palavras do apóstolo e a bênção imediata de Jesus. Qual era o significado de Cristo [Chrestós em grego]? Logicamente devemos recorrer à palavra correspondente hebraica. Significa Ungido que seria a tradução da palavra aramaica Messiah. A palavra Messias era traduzida como Christos em grego (Jo 1, 41). Originariamente era uma referência de Há Kohen há Massiah [o sacerdote, o ungido], ou seja, o Sumo Sacerdote, em cuja cabeça tinha sido derramado o óleo, quando consagrado como líder espiritual da comunidade (Lv 4, 3). Daí que o Messias era alguém investido por Deus de uma responsabilidade espiritual especial. Nos tempos de Jesus, existia a ideia de que um descendente da casa de Davi seria o Messias que redimiria a humanidade; tradição que provinha dos tempos de Isaías. E foi o profeta Daniel em 9, 25 que deu uma nova esperança a esse ungido de Deus. Essa tradição encarava o Messias, não como um ser divino, mas apenas como um homem, um grande chefe, reformador social, que iniciaria uma era de paz perfeita. É o que os anjos prometeram aos pastores ao anunciarem o nascimento do Salvador que era o Messias (Lc 2, 14). O termo Filho de Deus vivo era título Messiânico, assim como Santo de Deus(Jo 6, 69). O nome de Filho de Deus é uma expressão usada por Oséias em 2, 1: Aos filhos de Israel…se lhes dirá filhos do Deus vivo, o qual concorda perfeitamente com a frase de Mateus e a confissão de Marta: Eu creio que tu és o Cristo, o Filho de Deus, que vem a este mundo (Jo 11, 27). O Santo [consagrado] de Deus, era também um título Messiânico, como vemos em Jo 6, 6, numa confissão feita pelo próprio Pedro. Talvez esta confissão de Pedro no quarto evangelho seja uma réplica mais ou menos exata da que hoje estudamos em Mateus. Para um judeu, o Messias era produto de uma eleição divina que confiava uma missão especialíssima ao seu ungido. Para um grego ou um romano, o título ia além da personalidade humana do Messias. Sabemos que os judeus admitiram Jesus como Messias [Chrestós], título que para os gentios era traduzido como Senhor [Kyrios]. Pois Deus o constituiu Senhor e Cristo [Kyrion autón kai Christon, de At 2, 36]. Sabia Pedro o significado substancial de suas palavras? Pelo que vemos em 16, 22, não. Porém Jesus se serviu das mesmas para fundar sua Igreja. A palavra Messias significa Ungido. Portanto, dizer tu és o Chirstós [Ungido] é a mesma coisa que dizer tu és o Messias. Quanto às palavras O Filho do Deus Vivente [muito melhor do que vivo], que seria dizer o mesmo que Filho do Deus verdadeiro, porque os outros deuses não existem, não vivem; os autores duvidam se são verdadeiramente palavras de Pedro ou foram acrescentadas pela tradição como parêntesis explicativo para distinguir entre o Messias, filho de Davi, um rei de âmbito regional, e o Messias, Filho do verdadeiro Deus, Senhor, portanto, do Universo. As razões aludidas pelos exegetas baseiam-se fundamentalmente nos lugares paralelos de Marcos [tu és o Ungido] e de Lucas [és o Ungido de Deus]. A declaração de filiação divina tem um amplo significado na tradição judaica, já que todo rei era considerado filho de Deus por virtude de seu ofício, como representante divino perante o povo. Mateus, como seus dois paralelos sinóticos, proíbe aos discípulos que digam a alguém que ele [Jesus] era o Cristo. Se o sentido de Filho de Deus fosse estrito, como o entendemos atualmente, a proibição devia recair sobre esta segunda parte, Jesus como Deus, muito mais escandalosa e até blasfema para os contemporâneos, como vemos que a contemplou Caifás (Mt 26, 36). Existia uma aposição entre Messias e Filho de Deus. O pontífice conjura Jesus, em nome do Deus, do vivo [notar a coincidência dos termos] a que declarasse se ele era o Messias, o Filho de Deus. E então Jesus explica a sua transcendência, dizendo estará sentado à direita do Poder [de Deus] e vindo sobre as nuvens do céu. Com isso, o seu messiado se transforma em Divindade; e, portanto, Caifás entende escutar uma blasfêmia já que um homem se declara divino. Mesmo que a resposta de Pedro que estudamos seja estritamente histórica, nem por isso deveria ter um significado transcendente, como era o de declarar Jesus unigênito do Pai.
RESPOSTA DE JESUS: Então tendo respondido Jesus disse-lhe: Bendito és Simão Bar Ionas porque carne nem sangue te revelou mas o meu Pai o (que está ) nos céus (17). Respondens autem Iesus dixit ei beatus es Simon Bar Iona quia caro et sanguis non revelavit tibi sed Pater meus qui in caelis est. BEMAVENTURADO ÉS: O makarismo indica um favor divino alcançado por Pedro que Jesus explicará posteriormente. A carne e o sangue não te revelaram o que disseste. Carne e sangue é uma expressão semítica para significar o homem todo, considerado como puramente homem. Foi o meu Pai [que habita] nos céus que revelou o Filho a Pedro. Mateus entra na mesma linha lógica que descreve João em 6, 36: Todo aquele que o Pai me der virá a mim. Jesus considerou esta declaração de Pedro de tal importância que afirma duas coisas que, sem dúvida, transformarão a personalidade e o ministério do apóstolo.
PEDRO E A IGREJA: E por isso te digo, que tu és rocha e e sobre esta rocha edificarei minha Igreja. E (os) portões do Hades não prevalecerão sobre ela (18). Et ego dico tibi quia tu es Petrus et super hanc petram aedificabo ecclesiam meam et portae inferi non praevalebunt adversum eam. A) Tu es Petrus: Com esta primeira declaração, Jesus além de trocar o nome do apóstolo, que agora seria Kefas, como vemos nos primeiros escritos (Gálatas e 1Cor), significa seu novo ministério: ser fundamento de um edifício como a rocha era e é em todos os tempos. O nome de Simão seria trocado e usado em grego como Petros derivado da palavra Petra com o significado de rocha ou penhasco. A tradução do grego é muito mais esclarecedora pela força das palavras. Jesus afirma: sobre esta mesma rocha [taute te petra], ou sobre esta que é a rocha, edificarei a minha Igreja. Segundo as escrituras, a mudança de nome é um claro sinal de uma especial escolha e missão divinas. Abrão se tornará Abraão (Gn 17, 5). Jacó se tornará Israel (Gn 32, 29). Sarai será chamada Sara (Gn 17, 15). Gedeão recebeu o nome de Jerobaal (Jz 6, 32). A exceção do caso de Gedeão, todos os outros recebem diretamente de Deus e, coisa notável, com o nome novo nasce um povo novo em todos os casos: Abraão como pai de uma multidão de nações; Sara como matriz de reis poderosos; Israel foi o pai do povo do mesmo nome. Por isso, podemos deduzir que Rocha é não unicamente uma mudança de nome, mas também implica uma novidade de um povo, o povo da nova aliança, do Reinado do Senhor Jesus, que neste caso Mateus chama de sua Igreja. B) Ekklësia: Sobre esta Rocha edificarei a minha Igreja. As traduções que usam a palavra pedra estão deturpadas. Como vimos anteriormente, elas não dariam o verdadeiro sentido de rocha como fundamento sobre o qual se edifica uma casa. Jesus usa a palavra Igreja [Ekklësia] que só aparece uma outra vez em Mateus 18, 17 com o significado de assembleia e nunca em outros evangelhos. Só nos Atos aparece pela primeira vez em 5, 11 quando todos ficaram com grande temor ao conhecerem os fatos de Ananias e Safira. Igreja está aqui como reino visível, comunidade escatológica [no sentido dos últimos tempos] a substituir a sinagoga nestes tempos finais, constituída pelos fiéis que acreditam em Cristo. Há quem, citando as palavras de Paulo, que só admite um fundamento que é Cristo (1 Cor 3, 11) confunda a rocha com o(s) fundamento(s) e admite que também os outros apóstolos edificam sobre o mesmo fundamento diminuindo assim a importância de Pedro, pois Cristo é a pedra mestra [akrogoniaios e lapis, nada de petron ou petra!] (Ef 2, 20) {ver parágrafo anterior da RESPOSTA DE JESUS}. Mas esquecem que a pedra mestra não era o fundamento mas o remate do arco da qual dependia a estabilidade do mesmo. De fato, o gregoakrogoniaios tem como raiz akron [tope] e gonia [ângulo], sem nada haver com o elemento pedra [rocha]. Neste caso particular de Pedro, Jesus toma do templo de Pan, de mármore branco, edificado sobre uma rocha nas fontes do Jordão, o simbolismo da igreja e do seu chefe, Pedro. C) O Hades: Esta Igreja que começou com Pedro-rocha será a última e eterna como reunião do povo eleito porque as portas do Hades não prevalecerão contra ela. Se a afirmação de rocha como personalidade de Simão não fosse suficiente, Jesus persiste nos poderes e qualidades do seu apóstolo ao declarar seu papel primordial nessa grande assembleia dos eleitos, cuja perpetuidade descreve com palavras tomadas da tradição judaica. Fala das portas do inferno, ou melhor, portões do inferno. Há duas palavras em grego que são traduzidas por portas, mas que o inglês traduz por Gates [pyle] e doors [thyra]; em português poderíamos dizer portões e portas. O portão [pyle] era a entrada de uma cidade, de um templo, de um cárcere, de um reino. Assim a sublime porta do império turco. Pyle sai 9 vezes no NT. A porta [thyra] é a entrada ou a peça de madeira ou metal que fecha a mesma na casa e os interiores; também os sepulcros e os apriscos. É usada 18 vezes no NT. Chama a atenção que o pyle se usa em plural [pylai]. Porque os judeus admitiam 3 portas na cidade dos mortos, que corresponde ao Hades grego. Também podemos dizer que a maioria dos portões da cidade eram duplos com um espaço no meio para os guardas e os coletores de impostos. O Hadesgrego era o reino de uma ilha na nebulosa e subterrânea parte da terra, da qual era rei Aides[o invisível] ou Pluto [o rico]. Tanto bons como maus continuavam a existir como sombras em constante sede, nesse lugar tenebroso. Dentro do Hades, nesse mundo inferior [inferno] existia também um abismo chamado Tártaro, a região mais inferior da terra em que os malvados eram punidos. No judaísmo temos o Sheol do AT, que corresponderia ao Hades grego e aGehena do NT, esta última identificada com o Tártaro. A essa expressão corresponde o Salmo 9, 14: Tu que me fazes subir das portas da morte. E ao Hades, região dos mortos , Atos 2, 27: Não deixarás a minha vida no Hades e 2, 31: Não foi deixada a vida dele [Cristo] no Hades, que as bíblias traduzem por morte ou região dos mortos. Como conclusão, podemos afirmar que a frase: as portas do inferno não prevalecerão, significa que a morte, o fim, jamais chegará a esta Igreja.
AS CHAVES: E dar-te-ei as chaves do Reino dos céus; portanto, se algo atares na terra, está atado nos céus e o que desatares sobre a terra estará desatado nos céus (19). Et tibi dabo claves regni caelorum et quodcumque ligaveris super terram erit ligatum in caelis et quodcumque solveris super terram erit solutum in caelis. Constituída a comunidade de Jesus como uma cidade com seus muros e portões próprios, só existe uma maneira de entrar: abrir as mesmas por meio de chaves, já que o assalto à mesma está descartado no parágrafo anterior [não prevalecerão]. Os levitas passavam a noite na casa de Deus, pois, a eles cabia guardá-la e abri-la todas as manhãs (1 Cr 9, 27). Sobre o ombro do mordomo Eliacim, filho de Helcias, porá o Senhor Deus a chave da casa de Davi. Ele abrirá e ninguém fechará. Fechará e ninguém abrirá (Is 22, 22). Essa é a chave de Davi que está precisamente nas mãos do Filho do Homem do Apocalipse(3, 7). A similitude é tomada dos costumes da época. Ainda hoje os árabes carregam no ombro uma grande chave para indicar sua autoridade e potestade. A nenhum outro apóstolo foram dadas essas chaves que indicam o total domínio da Igreja. Como no parágrafo anterior, Pedro é singularmente favorecido, além de ser a rocha sobre a qual o fundamento da fé que é Cristo, edificará sua comunidade de crentes. Pedro terá as chaves para indicar quem deve ser incluído ou excluído. Estas chaves têm os seguintes significados: a) O chefe do palácio era quem recebia as chaves (Is 22, 22) e, portanto, era o dignatário de maior hierarquia. b) Se ligadas ao parágrafo posterior, as chaves servem par abrir e fechar, para admitir a entrada dos dignos e para expulsar os indignos. c) Mas também, seguindo o uso rabínico da época, as chaves eram o símbolo do ato de sentenciar questões religiosas como declarar lícita ou ilícita uma conduta. Concordam com esta interpretação as palavras de Jesus aos escribas: Ai de vós legistas, que tomastes as chaves do conhecimento; vós mesmos não entrastes e os que queriam entrar, vós os impedistes (Lc 11, 52). Os rabinos aplicavam a explicação da lei no sentido de declarar algo permitido ou proibido (Jo 21, 13-18). Agora serão Jesus e seus discípulos os que terão autoridade para representar o verdadeiro ensino. Mais: nesse caso o paralelo com as chaves indica que se trata de um verdadeiro poder e não de uma licença de ensino. É o poder que Mateus dá a comunidade na pessoa dos discípulos que têm de declarar quem é culpado de uma transgressão ou pecado, que justifica sua expulsão como membro da comum convivência. Na jurisprudência judaica da época, as chaves significam a faculdade que tinham os juízes de mandar para a prisão ou deixar livre um acusado. Poucos anos mais tarde, Rabi Neconia terminava seus sermões pedindo a Javé que não deixasse atado o que ele tinha desatado, nem desatado o que ele tinha atado; que não purificasse o que ele declarava impuro, nem tornasse impuro o que ele dissera ser puro. Em Mt 18, 18 este poder de excomungar um obstinado é dado, em termos gerais, à igreja, considerada como corpo jurídico, o que aqui é concedido em termos particulares a Pedro, o supremo pastor que deve governá-la em nome e com o amor de Jesus distribuído aos irmãos com dedicação (Jo 21,15-17 e 1 Pd 5,2).
COMENTÁRIOS: O texto é tão claro que os ortodoxos gregos afirmam que, em suas dioceses, os bispos que confessam a verdadeira fé se integram em Pedro como sucessores e dele herdam o primado. Os evangélicos reconhecem a posição e a função privilegiada de Pedro nas origens da Igreja, mas não admitem sucessor e restringem os poderes à pessoa de Pedro. Os católicos fundamentam sua interpretação no versículo 18: A igreja é imortal, e seu fundamento deve perdurar sempre. Assim como ortodoxos e evangélicos admitem bispos presbíteros e diáconos, como sucessores dos primitivos homônimos, por que unicamente o princípio de unidade deve estar ausente, se é sobre essa rocha que foi fundada a Igreja? Com razão comentava um colega meu no sacerdócio: Nós, católicos, temos a certeza e o orgulho de sermos a única Igreja cristã, edificada sobre fundamento rochoso, sobre Pedro (ver Mt 7,24). Daí que séculos mais tarde os latinos, com outro primado diferente de Pedro, afirmassem Ubi Petrus ibi Ecclesia Onde está Pedro aí está a Igreja. No caso de não levarmos o livre arbítrio da interpretação das escrituras ao extremo tão radical, que rejeitemos toda outra autoridade que não seja a acrata da interpretação individual, não se entende por que se admitem sucessores dos apóstolos como são os bispos, rejeitando os sucessores de Pedro, cuja base escriturística é pelo menos tão evidente como a dos bispos, já que em Pedro está fundada a Igreja.
Sugestão para homilia
Pistas: 1) Deixemos a primeira pergunta – quem dizem os homens que sou eu?- Porque como está o mundo talvez a reposta muçulmana [um profeta anterior a Maomé] seja a mais próxima daquela dada pelos discípulos em Cesareia de Filipe. Vamos, pois, responder à segunda pergunta: E vós? Hoje não é suficiente a resposta de Pedro: O Messias, o esperado de Israel. A nossa deveria ser: O filho de Deus encarnado, que se entregou e morreu por mim (Gl 2, 20). Por isso, vivemos a vida presente pela fé no Filho de Deus.
2) Na verdade, essa imagem de Cristo que todos nós levamos dentro, desde o batismo, está, ou destroçada, ou escurecida. Como poderemos ser apóstolos se não sentimos sua presença dentro de nós? Como vender um produto do qual não estamos nós, os vendedores, convencidos?
3) A resposta de Jesus dada a Simão indica que a nossa resposta, admitindo seu senhorio total como Messias e como Filho de Deus, é também um dom do céu e que ela merece um makarismo especial. Não seremos os chefes, como Pedro, mas a Igreja estará fundada em nós e nas nossas famílias.
4) Além de Cristo, como figura central, temos Pedro, como figura destacada, por duas razões: por sua fé em Jesus e por sua lista de serviços como chefe da comunidade. A revelação de confessar Jesus como Messias Filho de Deus, é um dom do Pai e isso serve para todos nós. A chefia da comunidade eclesial é própria dele e continua em seus sucessores através dos séculos. A eles pertence o poder das chaves, jurídico e doutrinal, como o entende a Igreja católica. Não foi dado este poder aos outros discípulos e, portanto, devemos distingui-lo do poder evangelizador e de governo dado ao resto dos apóstolos.
Boa Semana a todos
Pe. Lucimar Geraldo
sábado, 26 de junho de 2010
ROTEIRO HOMILÉTICO DO DIA 27/06/2010
TEMA
A liturgia de hoje sugere que Deus conta connosco para intervir no mundo, para transformar e salvar o mundo; e convida-nos a responder a esse chamamento com disponibilidade e com radicalidade, no dom total de nós mesmos às exigências do “Reino”.
A primeira leitura apresenta-nos um Deus que, para actuar no mundo e na história, pede a ajuda dos homens; Eliseu (discípulo de Elias) é o homem que escuta o chamamento de Deus, corta radicalmente com o passado e parte generosamente ao encontro dos projectos que Deus tem para ele.
O Evangelho apresenta o “caminho do discípulo” como um caminho de exigência, de radicalidade, de entrega total e irrevogável ao “Reino”. Sugere, também, que esse “caminho” deve ser percorrido no amor e na entrega, mas sem fanatismos nem fundamentalismos, no respeito absoluto pelas opções dos outros.
A segunda leitura diz ao “discípulo” que o caminho do amor, da entrega, do dom da vida, é um caminho de libertação. Responder ao chamamento de Cristo, identificar-se com Ele e aceitar dar-se por amor, é nascer para a vida nova da liberdade.
LEITURA I – 1 Re 19,16b.19-21
Naqueles dias, disse o Senhor a Elias:
«Ungirás Eliseu, filho de Safat, de Abel-Meola, como profeta em teu lugar».
Elias pôs-se a caminho e encontrou Eliseu, filho de Safat, que andava a lavrar com doze juntas de bois e guiava a décima segunda.
Elias passou junto dele e lançou sobre ele a sua capa.
Então Eliseu abandonou os bois, correu atrás de Elias e disse-lhe:
«Deixa-me ir abraçar meu pai e minha mãe; depois irei contigo».
Elias respondeu:
«Vai e volta, porque eu já fiz o que devia».
Eliseu afastou-se, tomou uma junta de bois e matou-a; com a madeira do arado assou a carne, que deu a comer à sua gente.
Depois levantou-se e seguiu Elias, ficando ao seu serviço.
AMBIENTE
Esta passagem do Primeiro Livro dos Reis leva-nos até ao séc. IX a.C. Estamos na época dos dois reinos divididos.
Os profetas Elias e Eliseu, aqui referenciados, exerceram o seu ministério profético no reino do norte (Israel), no tempo dos reis Acab e Ocozias (Elias), Jorão e Jehú (Eliseu). É uma época de grande desnorte, em termos religiosos: a fé jahwista é posta em causa pela preponderância que os deuses estrangeiros assumem na cultura religiosa de Israel.
Uma grande parte do ministério de Elias desenrola-se durante o reinado de Acab (874 853 a.C.). O rei – influenciado por Jezabel, a sua esposa fenícia – erige altares a Baal e Astarte e prostra-se diante das estátuas desses deuses. Estamos diante de uma tentativa de abrir Israel ao intercâmbio com outras culturas; mas essas razões políticas não são entendidas nem aceites pelos círculos religiosos de Israel. Nessa época, Elias torna-se o grande campeão da fé jahwista (cf. 1 Re 18 – o episódio do “duelo” religioso entre Elias e os profetas de Baal, no monte Carmelo), defendendo a Lei em todas as suas vertentes (inclusive na vertente social – cf. 1 Re 21 – o célebre episódio da vinha de Nabot), contra uma classe dirigente que subvertia a seu bel-prazer as leis e os mandamentos de Jahwéh.
A luta de Elias no sentido de preservar os valores fundamentais da fé jahwista será continuada nos reinados seguintes por um dos seus discípulos – Eliseu. A leitura que nos é proposta apresenta-nos, precisamente, o chamamento de Eliseu.
MENSAGEM
O texto propõe-nos uma reflexão sobre o chamamento de Deus e a resposta do homem.
O quadro inicial da nossa leitura situa-nos no Horeb, a montanha da revelação de Deus ao seu Povo (cf. 1 Re 19,8). Porquê no Horeb? Porque aí, no lugar onde começou a Aliança, Deus vai definir os instrumentos do restabelecimento da Aliança:
Elias é convidado a ungir Eliseu como profeta; ele será (juntamente com Jehú, futuro rei de Israel e de Hazael, futuro rei de Damasco) o instrumento de Deus na aniquilação de Acab, o rei infiel a Jahwéh e à Aliança. Trata-se da única vez que o Antigo Testamento refere a “unção” de um profeta.
Após a apresentação inicial, o autor deuteronomista desenha o quadro do chamamento de Eliseu. Ele está no campo, com os bois, a lavrar a terra quando Elias o encontra e o convida a ser profeta: o profeta não é alguém que, repentinamente, cai do céu e invade de forma anormal o mundo dos homens; também não é alguém que se torna profeta porque não serve para outra coisa; mas é sempre um homem normal, com uma vida normal, a quem Deus chama, indo ao seu encontro e falando-lhe na normalidade do trabalho diário, para lhe apresentar o seu desafio.
Elias lança sobre Eliseu o seu “manto”. Este gesto tem de ser entendido à luz da crença de que as roupas ou os objectos pertencentes a uma pessoa representavam essa pessoa e continham qualquer coisa do seu poder: dessa forma, Elias comunica a Eliseu o seu poder e o seu espírito proféticos (cf. 2 Re 2,13-14; 4,29-31; Lc 8,44; Act 19,12).
Temos, depois, a resposta de Eliseu ao desafio que Deus lhe lança através do gesto de Elias: imolou uma junta de bois, queimou o arado, assou a carne dos bois e deu-a a comer à sua família; depois, seguiu Elias e ficou ao seu serviço.
O gesto de Eliseu significa, provavelmente, o abandono da vida antiga, a renúncia à antiga profissão, a ruptura com a própria família e a entrega total à missão profética.
Exprime a radicalidade da sua entrega ao serviço de Deus.
ATUALIZAÇÃO
Ter em conta, para a reflexão, os seguintes dados:
A história da salvação não é a história de um Deus que intervém no mundo e na vida dos homens de forma espalhafatosa, prepotente, dominadora; mas é uma história de um Deus que, discretamente, sem se impor nem dar espectáculo, age no mundo e concretiza os seus planos de salvação através dos homens que Ele chama. É como se Ele nos dissesse como fazer as coisas, mas respeitasse o nosso caminho e Se escondesse por detrás de nós. É necessário ter em conta que somos os instrumentos de Deus para construir a história, até que o nosso mundo chegue a ser esse “mundo bom” que Deus sonhou. Aceitamos este desafio?
O relato da “vocação” de Eliseu não é o relato de uma situação excepcional, que só acontece a alguns privilegiados, eleitos entre todos por Deus para uma missão no mundo; mas é a história de cada um de nós e dos apelos que Deus nos faz, no sentido de nos disponibilizarmos para a missão que Ele nos quer confiar, quer no mundo, quer na nossa comunidade cristã. Estou atento aos apelos de Deus? Tenho disponibilidade, generosidade e entusiasmo para me empenhar nas tarefas a que Ele me chama?
O chamamento de Deus chega a Eliseu através da acção de Elias… É preciso ter em conta que, muitas vezes, o desafio de Deus nos chega através da palavra ou da interpelação de um irmão; e que, muitas vezes, é preciso contar com o apoio de alguém para discernir o caminho e ser capaz de enfrentar os desafios da vocação.
Finalmente, somos chamados a contemplar a disponibilidade de Eliseu e a forma radical como ele acolheu o desafio de Deus. A referência à morte dos bois, ao desmantelamento do arado (cuja madeira serviu para assar a carne dos animais) e ao banquete de despedida oferecido à família significa que o profeta resolveu “cortar todas as amarras”, pois queria dar-se, radicalmente, ao projecto de Deus. É esse corte radical com o passado e essa entrega definitiva à missão que nos questiona e interpela.
SALMO RESPONSORIAL – Salmo 15 (16)
Refrão: O Senhor é a minha herança.
Defendei-me, Senhor: Vós sois o meu refúgio.
Diga ao Senhor: «Vós sois o meu Deus».
Senhor, porção da minha herança e do meu cálice, está nas vossas mãos o meu destino.
Bendigo o Senhor por me ter aconselhado, até de noite me inspira interiormente.
O Senhor está sempre na minha presença, com Ele a meu lado não vacilarei.
Por isso o meu coração se alegra e a minha alma exulta e até o meu corpo descansa tranquilo.
Vós não abandonareis a minha alma na mansão dos mortos, nem deixareis o vosso fiel sofrer a corrupção.
Dar-me-eis a conhecer os caminhos da vida, alegria plena na vossa presença, delícias eternas à vossa direita.
LEITURA II – Gal 5,1.13-18
Irmãos:
Foi para a verdadeira liberdade que Cristo nos libertou.
Portanto, permanecei firmes e não torneis a sujeitar-vos ao jugo da escravidão.
Vós, irmãos, fostes chamados à liberdade.
Contudo, não abuseis da liberdade como pretexto para viverdes segundo a carne; mas, pela caridade, colocai-vos ao serviço uns dos outros, porque toda a Lei se resume nesta palavra:
«Amarás o teu próximo como a ti mesmo».
Se vós, porém, vos mordeis e devorais mutuamente, tende cuidado, que acabareis por destruir-vos uns aos outros.
Por isso vos digo:
Deixai-vos conduzir pelo Espírito e não satisfareis os desejos da carne.
Na verdade, a carne tem desejos contrários aos do Espírito, e o Espírito desejos contrários aos da carne.
São dois princípios antagónicos e por isso não fazeis o que quereis.
Mas se vos deixais guiar pelo Espírito, não estais sujeitos à Lei de Moisés.
AMBIENTE
Continuamos a ler a Carta aos Gálatas. Já sabemos qual é o problema fundamental aí abordado: os Gálatas estão a ser perturbados por esses “judaízantes” para quem os rituais da Lei de Moisés também são necessários para chegar à vida em plenitude (“salvação”); e Paulo – para quem “Cristo basta” e para quem as obras da Lei já não dizem nada – procura fazer com que os Gálatas não se sujeitem mais à escravidão, nomeadamente à escravidão dos ritos e das leis.
O texto que nos é proposto aparece na parte final da Carta. É o início de uma reflexão sobre a verdadeira liberdade, que é fruto do Espírito (cf. Gal 5,1-6,10).
MENSAGEM
As palavras de Paulo são um convite veemente à liberdade. Logo no início deste texto (vers. 1), ele avisa os Gálatas que foi para a liberdade que Cristo os libertou (a repetição – libertar para a liberdade – é, sem dúvida, um hebraísmo destinado a dar ao verbo “libertar” um sentido mais intenso) e que não convém voltar a cair no jugo da escravidão (mais à frente – vers. 2-4 – ele identifica essa escravidão com a Lei e com a circuncisão).
Os vers. 13-18 explicam em que consiste a liberdade para o cristão. Trata-se da faculdade de escolher entre duas coisas distintas e opostas? Não. Trata-se de uma espécie de independência ético-moral, em virtude da qual cada um pode fazer o que lhe apetece, sem barreiras de qualquer espécie? Também não.
Para Paulo, a verdadeira liberdade consiste em viver no amor (vers. 13-14). O que nos escraviza, nos limita e nos impede de alcançar a vida em plenitude (“salvação”) é o egoísmo, o orgulho, a auto-suficiência; mas superar esse fechamento em nós próprios e fazer da nossa vida um dom de amor torna-nos verdadeiramente livres. Só é autenticamente livre aquele que se libertou de si próprio e vive para se dar aos outros.
Como é que esta “liberdade” (a capacidade de amar, de dar a vida) nasce em nós? Ela nasce da vida que Cristo nos dá: pela adesão a Cristo, gera-se em cada pessoa um dinamismo interior que a identifica com Cristo e lhe dá uma capacidade infinita de amar, de superar o egoísmo, o orgulho e os limites – ou seja, com uma capacidade infinita de viver em liberdade. É o Espírito que alimenta, dia a dia, essa vida de liberdade (ou de amor) que se gerou em nós, a partir da nossa adesão a Cristo (vers.
16).
Viver na escravidão é continuar a viver uma vida centrada em si próprio (Paulo enumera, mais à frente, as obras de quem é escravo – cf. Gal 5,19-21); viver na liberdade (“segundo o Espírito”) é sair de si e fazer da sua vida um dom, uma partilha (Paulo enumera, mais à frente, as obras daquele que é livre e vive no Espírito – cf. Gal 5,22-23).
ATUALIZAÇÃO
Considerar, na reflexão, os seguintes elementos:
Os homens do nosso tempo têm em grande apreço esse valor chamado “liberdade”; no entanto têm, frequentemente, uma perspectiva demasiado egoísta deste valor fundamental. Quando a “liberdade” se define a partir do “eu”, identificase com “libertinagem”: é a capacidade de “eu” fazer o que quero; é a capacidade de “eu” poder escolher; é a capacidade de “eu” poder tomar as minhas decisões sem que ninguém me impeça… Esta liberdade não gera, tantas vezes, egoísmo, isolamento, orgulho, auto-suficiência e, portanto, escravidão?
Para Paulo, só se é verdadeiramente livre quando se ama. Aí, eu não me agarro a nada do que é meu, deixo de viver obcecado comigo e com os meus interesses e estou sempre disponível – totalmente disponível – para me partilhar com os meus irmãos. É esta experiência de liberdade que fazem hoje tantas pessoas que não guardam a própria vida para si próprias, mas fazem dela uma oferta de amor aos irmãos mais necessitados. Como dar este testemunho e passar esta mensagem aos homens do nosso tempo, sempre obcecados com a verdadeira liberdade? Como explicar que só o amor nos faz totalmente livres?
Falar de uma comunidade (cristã ou religiosa) formada por pessoas livres em Cristo implica falar de uma comunidade voltada para o amor, para a partilha, para as necessidades e carências dos irmãos que estão à sua volta. É isso que realmente acontece com as nossas comunidades? Damos este testemunho de liberdade no dom da vida aos irmãos que nos rodeiam? As nossas comunidades são comunidades de pessoas livres que vivem no amor e na doação, ou comunidades de escravos, presos aos seus interesses pessoais e egoístas, que se magoam e ofendem por coisas sem importância, dominados por interesses mesquinhos e capazes de gestos sem sentido de orgulho e prepotência?
ALELUIA – 1 Sam 3,9; Jo 6,68c
Aleluia. Aleluia.
Falai, Senhor, que o vosso servo escuta.
Vós tendes palavras de vida eterna.
EVANGELHO – Lc 9,51-62
Aproximando-se os dias de Jesus ser levado deste mundo, Ele tomou a decisão de Se dirigir a Jerusalém e mandou mensageiros à sua frente.
Estes puseram-se a caminho e entraram numa povoação de samaritanos, a fim de Lhe prepararem hospedagem.
Mas aquela gente não O quis receber, porque ia a caminho de Jerusalém.
Vendo isto, os discípulos Tiago e João disseram a Jesus:
«Senhor, queres que mandemos descer fogo do céu que os destrua?» Mas Jesus voltou-Se e repreendeu-os.
E seguiram para outra povoação.
Pelo caminho, alguém disse a Jesus:
«Seguir-Te-ei para onde quer que fores».
Jesus respondeu-lhe:
«As raposas têm as suas tocas e as aves do céu os seus ninhos; mas o Filho do homem não tem onde reclinar a cabeça».
Depois disse a outro: «Segue-Me».
Ele respondeu:
«Senhor, deixa-me ir primeiro sepultar meu pai».
Disse-lhe Jesus:
«Deixa que os mortos sepultem os seus mortos; tu, vai anunciar o reino de Deus».
Disse-Lhe ainda outro:
«Seguir-Te-ei, Senhor; mas deixa-me ir primeiro despedir-me da minha família».
Jesus respondeu-lhe:
«Quem tiver lançado as mãos ao arado e olhar para trás não serve para o reino de Deus».
AMBIENTE
Aqui começa, precisamente, a segunda parte do Evangelho segundo Lucas. Até agora, Lucas situou Jesus na Galileia (1ª parte); mas, a partir de 9,51, Lucas põe Jesus a caminhar decididamente para Jerusalém. A “caminhada” que Jesus aqui inicia com os discípulos é mais teológica do que geográfica: não se trata tanto de fazer um diário da viagem ou de fazer a lista dos lugares por onde Jesus vai passar até chegar a Jerusalém; trata-se, sobretudo, de apresentar um itinerário espiritual, ao longo do qual Jesus vai mostrando aos discípulos os valores do “Reino” e os vai presenteando com a plenitude da revelação de Deus. Todo este percurso que aqui se inicia converge para a cruz: ela vai trazer a revelação suprema que Jesus quer apresentar aos discípulos e nela vai irromper a salvação definitiva. Os discípulos são exortados a seguir este “caminho”, para se identificarem plenamente com Jesus… Lucas propõe aqui à sua comunidade o itinerário que os autênticos crentes devem percorrer.
MENSAGEM
Lucas começa por apresentar as “exigências” do “caminho”. O nosso texto apresenta, nitidamente, duas partes, dois desenvolvimentos.
Na primeira parte (vers. 51-56), o cenário de fundo situa-nos no contexto da hostilidade entre judeus e samaritanos. Trata-se de um dado histórico: a dificuldade de convivência entre os dois grupos era tradicional; os peregrinos que iam a Jerusalém para as grandes festas de Israel procuravam evitar a passagem pela Samaria, utilizando preferencialmente o “caminho do mar” (junto da orla costeira), ou o caminho que percorria o vale do rio Jordão, a fim de evitar “maus encontros”.
A primeira lição de Jesus ao longo desta “caminhada” vai para a atitude que os discípulos devem assumir face ao “ódio” do mundo. Que fazer quando o mundo tem uma atitude de rejeição face à proposta de Jesus? Tiago e João pretendem uma resposta agressiva, “musculada”, que retribua na mesma moeda, face à hostilidade manifestada pelos samaritanos (a referência ao “fogo do céu” leva-nos ao castigo que Elias infligiu aos seus adversários – cf. 2 Re 1,10-12); mas Jesus avisa-os que o seu “caminho” não passa nem passará nunca pela imposição da força, pela resposta violenta, pela prepotência (no seu horizonte próximo continua a estar apenas a cruz e a entrega da vida por amor: é no dom da vida e não na prepotência e na morte que se realizará a sua missão). Isto é algo que os discípulos nunca devem esquecer, se estão interessados em percorrer o “caminho” de Jesus.
Na segunda parte (vers. 57-62), Lucas apresenta – através do diálogo entre Jesus e três candidatos a discípulos – algumas das condições para percorrer, com Jesus, esse “caminho” que leva a Jerusalém, isto é, que leva ao acontecer pleno da salvação. Que condições são essas? O primeiro diálogo sugere que o discípulo deve despojar-se totalmente das preocupações materiais: para o discípulo, o Reino tem de ser infinitamente mais importante do que as comodidades e o bem-estar material.
O segundo diálogo sugere que o discípulo deve despegar-se desses deveres e obrigações que, apesar da sua relativa importância (o dever de sepultar os pais é um dever fundamental no judaísmo), impedem uma resposta imediata e radical ao Reino.
O terceiro diálogo sugere que o discípulo deve despegar-se de tudo (até da própria família, se for necessário), para fazer do Reino a sua prioridade fundamental: nada – nem a própria família – deve adiar e demorar o compromisso com o Reino.
Não podemos ver estas exigências como normativas: noutras circunstâncias, Ele mandou cuidar dos pais (cf. Mt 15,3-9); e os discípulos – nomeadamente Pedro – fizeram-se acompanhar das esposas durante as viagens missionárias (cf. 1 Cor 9,5)… O que estes ensinamentos pretendem dizer é que o discípulo é convidado a eliminar da sua vida tudo aquilo que possa ser um obstáculo no seu testemunho quotidiano do Reino.
ATUALIZAÇÃO
Na reflexão, considerar os seguintes elementos:
A nós, discípulos de Jesus, é proposto que O sigamos no “caminho” de Jerusalém, nesse “caminho” que conduz à salvação e à vida plena. Trata-se de um “caminho” que implica a renúncia a nós mesmos, aos nossos interesses, ao nosso orgulho, e um compromisso com a cruz, com a entrega da vida, com o dom de nós próprios, com o amor até às últimas consequências. Aceitamos ser discípulos, isto é, embarcar com Jesus no “caminho de Jerusalém”?
O “caminho do discípulo” é um caminho exigente, que implica um dom total ao “Reino”. Quem quiser seguir Jesus, não pode deter-se a pensar nas vantagens ou desvantagens materiais que isso lhe traz, nem nos interesses que deixou para trás, nem nas pessoas a quem tem de dizer adeus… O que é que, na nossa vida quotidiana, ainda nos impede de concretizar um compromisso total com o “Reino” e com esse caminho do dom da vida e do amor total?
ALGUMAS SUGESTÕES PRÁTICAS PARA O 13º DOMINGO DO TEMPO COMUM
(em parte adaptadas de “Signes d’aujourd’hui”)
1. A PALAVRA MEDITADA AO LONGO DA SEMANA.
Ao longo dos dias da semana anterior ao 13º Domingo do Tempo Comum, procurar meditar a Palavra de Deus deste domingo. Meditá-la pessoalmente, uma leitura em cada dia, por exemplo… Escolher um dia da semana para a meditação comunitária da Palavra: num grupo da paróquia, num grupo de padres, num grupo de movimentos eclesiais, numa comunidade religiosa… Aproveitar, sobretudo, a semana para viver em pleno a Palavra de Deus.
2. VALORIZAR AS PROCISSÕES DA CELEBRAÇÃO.
O “Segue-Me” que Cristo nos dirige no Evangelho pode ser realçado particularmente nas procissões da Eucaristia:
- procissão de entrada: seguir atrás de Cristo, salvador dos homens;
- procissão do Evangeliário no momento da aclamação do Evangelho: seguir atrás de Cristo, Palavra de Vida;
- procissão de ofertório: seguir atrás de Cristo, sacerdote eterno na sua oblação ao Pai;
- procissão de comunhão: é Cristo que nos convida a comungar o seu Corpo e o seu Sangue;
- procissão de saída: é Cristo que nos envia para o mundo.
Cada comunidade procurará encontrar os meios mais adequados para valorizar as procissões na Eucaristia, tantas vezes esquecidas ou mal preparadas, como expressão simbólica e profunda do nosso seguimento de Cristo.
3. O SALMO.
O Salmo de hoje é um dos mais belos e mais profundos. Seria útil que toda a assembleia tivesse o texto fotocopiado, para ser acompanhado no momento próprio da sua proclamação. Depois da comunhão, pode ser retomado: em acção de graças, toda a assembleia pode ler lentamente as quatro estrofes.
4. ORAÇÃO NA LECTIO DIVINA.
Na meditação da Palavra de Deus (lectio divina), pode-se prolongar o acolhimento das leituras com a oração.
No final da primeira leitura:
Deus de bondade, de luz, de vida e de alegria, como Elias e Eliseu, vale a pena agarrarmo-nos a Ti sem olhar para trás. Nós Te damos graças pelos teus apelos.
Nós Te pedimos pelos nossos irmãos e irmãs indecisos, que duvidam e hesitam em dar o passo, nas múltiplas solicitações da existência.
No final da segunda leitura:
Pai, nós Te damos graças pela libertação realizada pelo teu Filho, que nos purifica das forças do mal, e pelo dom do teu Espírito, que nos purifica do egoísmo.
Escutando o teu Filho Jesus, colocamo-nos sob a acção do Espírito Santo, para que nos penetre com a sua luz e nos indique o caminho.
No final do Evangelho:
Deus fiel, bendito sejas pela paciência que o teu Filho Jesus nos revela: não lanças o fogo do céu sobre os indiferentes e os duros de coração, porque não queres a morte do pecador, mas que ele viva.
Nós Te pedimos: liberta-nos do peso das nossas culpabilidades, purifica-nos dos erros cometidos, para que possamos seguir o teu Filho com um coração leve e puro.
5. BILHETE DE EVANGELHO.
Quando Lucas menciona que Jesus tomou com coragem o caminho de Jerusalém, apresenta Cristo plenamente livre e decidido em ir até ao fim da sua missão, com o risco de aí viver a sua Paixão. É, pois, um Cristo a caminho que reencontram os seus discípulos e, nesta caminhada como em todas as outras, há obstáculos de toda a espécie. Encontra a recusa dos Samaritanos, mas Jesus passa e respeita a liberdade das pessoas que encontra. Ao contrário de Tiago e João que queriam empregar o método da força… E depois, quando alguém caminha dá também vontade de seguir os seus passos. Somente Cristo em marcha sabe aonde vai, avança com passo decidido. Então, quem quiser segui-l’O não pode ter hesitações nem restrições. Para Ele, o tempo urge, tem a ver com a salvação da humanidade, com a vontade do Pai.
Se Jesus parece exigente para com aqueles que O querem seguir, é porque Ele mesmo é exigente quanto à sua própria caminhada. É caminhando que Jesus convida a colocarmo-nos a caminho atrás d’Ele. Então, aqueles que o seguirem poderão dizer como Paulo: “combati o bom combate, acabei a minha carreira, guardei a fé”.
6. À ESCUTA DA PALAVRA.
Frases fortes, às vezes revoltantes, as do Evangelho de hoje. É impossível pararmos em cada uma delas. Retenhamos a última afirmação de Jesus: “Quem tiver lançado as mãos ao arado e olhar para trás não serve para o reino de Deus”. Mas olhar para trás pode ser útil, mesmo necessário: parar para fazer o ponto da situação, fazer o balanço, saber onde se está, reconhecer os erros cometidos mas também os progressos realizados, para poder recomeçar melhor. É também dar graças pelas amizades, pelas experiências enriquecedoras. E tirar lições positivas dos fracassos.
Tudo isso é bom e Jesus não pode condenar ou proibir isso. Mas há outra maneira de olhar para trás: é querer voltar para trás, manter em si uma vã nostalgia, como quando dizemos, por exemplo, que “antigamente, é que era bom, era melhor que agora!”.
Lamentamos o tempo em que, pensamos nós, havia o respeito dos verdadeiros valores, onde havia referências seguras, que pensávamos imutáveis. Lembramo-nos das igrejas cheias, das missas em latim. “Nessa altura, sim, havia fé!”, dizemos, enquanto que, hoje, só há dinheiro, violência, sexo, divórcios, droga! E suspiramos:
“No meu tempo, não era assim!” Ora, esquecemos simplesmente que o “meu tempo” é o tempo que me é dado hoje. Não é mais ontem, não é ainda amanhã, é hoje. Mais ainda, quando acreditamos que Jesus ressuscitou, referimo-nos a um acontecimento que se passou há dois mil anos. E pensamos, por vezes, que para nos juntarmos a Jesus, é preciso voltar atrás. Isso é um grande erro. Pela sua ressurreição, Jesus saiu do nosso tempo, tornou-Se o contemporâneo de cada momento do tempo. Jesus conhece-me, encontra-me, dá-me a sua presença hoje, em cada instante da minha vida. Jesus pede-me para não voltar atrás, porque me diz: “É agora que te amo, é agora que quero encontrar-te, estar contigo”. Se aceito isso, então sou “feito para o Reino!”
7. ORAÇÃO EUCARÍSTICA.
Em ligação com o Evangelho, pode-se escolher a Oração Eucarística II, sublinhando a expressão “Tu nos escolheste para servir em tua presença”.
8. PALAVRA PARA O CAMINHO…
Apelo e convite a amar. Apelo: um convite presente em todas as leituras deste domingo. Apelo que recebe um acolhimento favorável, mas com resistências quanto à resposta. Sim, mas… Vamos aceitar o apelo de Jesus a segui-l’O, vamos renovar o convite a segui-l’O no amor. Em cada momento, ao longo da semana que se segue…
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terça-feira, 22 de junho de 2010
Dom Antonio Bras Benevente

O Papa Beto XVI nomeou bispo da cidade de Jacarezinho, Paraná - o Mons. Antônio Braz Benevente do cléro de uberaba-MG
Viagário Geral da Arquidiocese de Uberaba
Ecônomo da Arquidiocese de Uberaba
Pároco da Paróquia São Benedito
Data de nascimento 01/01/61
Ordenação sacerdotal 07/12/1985
Foi ordenado Dom Benedito de Ulhoa Vieira
Muito querido e amado pelo Clero de Uberba
Bem vindo Irmão ao nosso novo Areópago moderno?
Enquanto Paulo os esperava em Atenas, à vista da cidade entregue à idolatria, o seu coração enchia-se de amargura. | |
Disputava na sinagoga com os judeus e prosélitos, e todos os dias, na praça, com os que ali se encontravam. | |
Alguns filósofos epicureus e estóicos conversaram com ele. Diziam uns: Que quer dizer esse tagarela? Outros: Parece que é pregador de novos deuses. Pois lhes anunciava Jesus e a Ressurreição. | |
Tomaram-no consigo e levaram-no ao Areópago, e lhe perguntaram: Podemos saber que nova doutrina é essa que pregas? | |
Pois o que nos trazes aos ouvidos nos parece muito estranho. Queremos saber o que vem a ser isso. | |
Ora (como se sabe), todos os atenienses e os forasteiros que ali se fixaram não se ocupavam de outra coisa senão a de dizer ou de ouvir as últimas novidades. |
Quem sou eu
- Pe Lucimar
- Sacerdote Católico desde 1994 - Pro-paroquia Nossa Senhora Aparecida - Arquidiocese de Uberba - MG